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terça-feira, dezembro 21, 2010

As mulheres precisam?



[...] a grande deusa, representante da dissolução, da transformação, do irracional e do aspecto destrutivamente violento do yang, é satanizada, rejeitada e reprimida. a face noturna e dionisíaca da existência - o êxtase, a paixão, a morte e o renascimento - é gradualmente relegada às divindades telúricas sinistras (”sinistro” deriva do latim, “esquerdo”; portanto, canhoto e proveniente do hemisfério cerebral direito). se o aspecto desestruturador do yang é inaceitável para a consciência racional e patriarcal, mais inaceitável ainda é o mistério caótico da escuridão de yin. a deusa, a mãe escura, vive no exílio. no mundo androlátrico onde reina a ordem e a ilusão, as mulheres precisam ser boas, delicadas, provedoras e receptivas.
[edward c. whitmont, o retorno da deusa, p. 79]




Posso ser boa mas por que desejo ser isso, naquele instante, e da forma como eu entendo a bondade, mas sem perder minha força, meu ímpeto, meu desejo de mutar e mudar a mim e ao que me cerca.

Delicadeza é um termo hoje mais expandido, a delicadeza pode morar em mim sem me travestir em boneca imaculada e intocável, pode ser manifesta nos momentos em que exerço meu direito em viver meu Sagrado, e este Sagrado não é necessariamente o que tal vez seja para outros sacro...

Sou se quiser ser provedora, dos meus, em sentimentos, afetos, amor, assim como devo não sê-lo se isso me esvai e deixa seca. Jamais o serei se implicar anulação, apatia, imobilidade, morte e ignorância. Ser provedora em minha leitura pessoal é saber nutrir a mim mesma, e assim ter o que oferecer aos demais. Sem mim, me esquecendo de quem sou e o que mereço receber e prover, não existo, nem para mim, nem para alguém mais.
Sei prover meu clã com alimento para nosso espírito, com sentimentos e analises mais críticas sobre nós e nosso meio, com instantes simples, que ultrapassem a mesmice do banal.

Minha receptividade é seletiva, e deve ser assim. Caso contrário corro o risco de tudo aceitar, e permitir que meus limites sejam perpassados por egos inflados ou por mentes perigosas. Sou receptiva na medida em que me acolhem e em que me permitem manifestar minha essência.

Antes de mais nada sou mulher com uma imensa facilidade em se ver obscura e sentir-se com essa visão de si mesma, confortável.

Há em mim celeridade em assumir meu lado negro, escuso, tenso, sujo, ruim, não vejo motivos para camuflar minha humanidade.

Há em mim premencia em sentir-me viva, e para isso devo aceitar minhas imperfeições, sem matizá-las ou escamoteá-las para que me aceitem melhor.
É nesse infinito acordar e renascer cotidiano que o Retorno da Deusa se mostra em mim e para mim.


Luciana Onofre

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Luciana Onofre

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“La Diosa que hay en mi, contempla a la Diosa que hay en ti”